"Antes de mudar o mundo, mudar a gente. Ajuda pra caramba..." (Renato Russo)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Quem e Quanto somos?


Há muito tempo atrás, lá pelos idos de 2007, eu toquei em um assunto aqui no Ordem, mas como no dia não estava muito bom para tocar a idéia prometi que voltaria a falar no assunto futuramente. Só que nunca mais voltei. Até hoje.

Você consegue ser dois ou mais de você mesmo? Ao mesmo tempo?

Sim eu sei que as perguntas são profundas demais pra você responder assim de súbito, portanto não responda ainda. Antes, peço que acompanhe a linha do raciocínio.


Pense em como era sua vida antes da Internet. Lembre-se de como era sua interação com as pessoas. Contato pessoal. Telefonemas. Cartas. E só! Você poderia estar com muita gente ao mesmo tempo, mas jamais poderia estar com muita gente, ao mesmo tempo, sem que os outros interlocutores tivessem conhecimento um do outro. Se você tivesse conversando com Maria e João, obrigatoriamente o João também teria conhecimento de Maria. Talvez existissem raríssimas exceções, mas essas eram as únicas possibilidades de interação social. Certo? Até que...

A Internet trouxe consigo uma Revolução desse paradigma!

Repare. Você já deve ter passado por essa situação.

Imagine-se conversando no Messenger com duas pessoas: eles não têm conhecimento um do outro, mas ambos são seus amigos. Maria ta puta da vida porque seu namorado saiu novamente sem avisar e chegou de madrugada em casa. Coisa que você já ouviu 473 vezes, mas ainda tem paciência para dar conselhos. Mas aí João pede sua atenção eu odeio quem faz isso porque está esperando a resposta para o convite que te fez para aquele programa Sábado à noite. Você responde que está de pé e se anima com as possibilidades. Você se diverte com o bom-humor do amigo e suas piadas toscas. Mas eis que a janela de Maria pisca e ela diz que já não agüenta mais as bolas-fora do seu namorado e que já está cansada de sofrer...

Imagino que agora você esteja entendendo onde quis chegar com as perguntas lá em cima.

Quantos de nós, nós mesmos podemos ser ao mesmo tempo?

Essa é uma retórica que não existiria se não fosse a Internet e suas possibilidades.

Por exemplo, ainda no último post eu falava sobre o assédio sofrido por blogueiros. A Internet permite interação quase pessoal entre pessoas que jamais se viram pessoalmente. O que há 20 anos atrás seria um total paradoxo, hoje em dia é plenamente possível. E essa revolução de paradigmas afeta a auto-estima. Senão vejamos:

Imagine uma pessoa que na infância e juventude era repudiada pelos colegas de classe por sua aparência. Esta mesma pessoa pode ser uma espécie de “símbolo sexual virtual”, desejada por muitos que desconhecem sua aparência, mas se apaixonam por suas idéias.

Se por um lado isso é bom para esta pessoa entender que existe algo mais importante que sua aparência para definir quem ela é e suas capacidades sociais, o que invariavelmente aumentará sua auto-estima; também pode gerar um certo “desapego” ao corpo, a aparência e até mesmo a vida social dita “real” (as aspas servem pra deixar registrado que existe controvérsia em diferenciar como ‘real’ e ‘virtual’ as interações sociais, afinal, por que a segunda não pode também ser considerada real? Mas isso é papo pra depois...).

Não é raro nos depararmos com obesidade mórbida, atrofia por sedentarismo e outras mazelas sofridas por quem passa horas na frente do computador.

Para a maioria de nós pertencentes a uma geração transitória, é obvio que deva existir um meio termo entre os dois mundos. Mas o que dizer das gerações posteriores que já nascerão inseridas em um contexto onde o antigo paradigma fora totalmente alterado?

Podemos ter pessoas confiantes e tolerantes que não se prendem totalmente a arquétipos e códigos de conduta por saberem que tudo isso é muito questionável. Porém, também podemos ter pessoas que por excesso de interação podem acabar desconhecendo a si mesmas, distanciando-se de um mundo que por ser considerado real cobra aparência e capacidade física para permanecer em um mundo onde pode acabar se resumindo a um cérebro pensante que achar que não precisa do corpo para viver e por isso não se cuida.

Você já pensou nisso?

Em tempo: se você comentar e quiser ser avisado sobre uma possível réplica do seu comentário (minha ou de outros leitores) deixe seu e-mail e eu aviso quando houver novidade. Fechado?

I.A.

10 Comentários:

Tatiana disse...

Quer dizer que a retrospectiva de ontem rendeu um post?!
Depois passo por aqui pra comentar sobre ele. ;)

Te amo!
;*

Viiii disse...

Respondendo à sua pergunta: Sim, consigo ser mais de uma ao mesmo tempo. E é espantoso a nossa capacidade de mudar conforme o ambiente. Certamente a pessoa que te fala através desse blog, age de maneiras diferentes ao vivo e a cores. Não sei que nome devemos dar a isso, mas percebe-se que é uma nova tendencia social.Mas tudo o que é novo requer cautela. É comum, como você mesmo disse pessoas perderem controle e se tornarem sedentárias, por exemplo. Mas isso é apenas uma consequencia.
O fato é que devemos manter sempre o equilíbrio. Saber tirar proveito das boas coisas que a web nos fornece mas também não nos tornarmos escravos dela. Afinal, a vida é muito mais do que isso.

Rodz Online disse...

Acho que é super comum sim muitas pessoas serem duas e até mais que isso conforme o local em que ela circula (seja ao vivo, internet, etc)

abçs

http://rodzonline.blogspot.com/

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Participe da Comunidade do Orkut Blogs sobre Rock e Cinema:
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=97308660

Inez disse...

Nós mulheres conseguimos ser mais de uma ao mesmo tempo, desenvolvemos essa habilidade pelas exigências da vida.
Procuramos manter sempre o equilíbrio, mas quando a situação exige conseguimos sim.

Guilherme Bayara disse...

Temos realmente de procurar um equilibrio.

E respondendo a pergunta:
Sou milhares de mim mesmo ao mesmo tempo na frente computador. Como no seu exemplo, enquanto consolo uma, marco compromisso com outro, me declaro a outra, desabafo com alguém e mais n coisas...

E chego a me espantar com a facilidade de mudar de humor ao mudar de janela no msn, e só parei para pensar nisso agora, admito.


Tenho que pensar mais no assunto...

Assim que tiver processado toda a informação, volto e comento novamente.

Adorei o BLog, estou te seguindo!

Maicon Furtado disse...

Eu me orgulho de dizer que a minha geração foi a última que pôde brincar na rua até tarde, sem se preoucupar muito com bandidos...
Agora, as crianças de hoje só querem ficar na internet.. as 'crianças de casa' já viraram 'crianças de apartamento'...
A internet tras muitos beneficios.. mas também pode prejudicar na vida social ;x

Fabio Bustamante disse...

Acho que algumas pessoas conseguem ser duas. Eu, por exemplo, não consigo. Sou o mesmo em tudo que eu faço, seja na internet ou não. Como o inimigosecreto disse acima, hoje as crianças não saem de casa. Aproveitei bem minha infância, sem internet.

www.botecodohumor.blogspot.com

Andreia disse...

Muito profundo e tocante este assunto, meu amigo. Falando por mim, eu não consigo ser duas ao mesmo tempo, quanto mais três! Acho que é este o motivo que eu não entro com frequência no msn, já que não consigo mudar de humor, dependendo com quem eu falo e qual é o assunto. Antes, eu sempre apresentava um amigo de msn para outro, colocando ambos em um chat e as conversas se tornavam muito mais agradáveis. Ou eu achava que o ambiente estava mais agradável. Talvez, porque me fazia lembrar como era antigamente, quando a única forma de entrar em contato era reunir os amigos e conversar numa rodinha.

Entretanto, o mundo gira e nós temos que mudar. Ninguém manda mais carta para outros, ou liga para desejar um bom natal. Não discrimino o ato. Se hoje a internet facilita o contato, para que complicar? É claro que mandar um e-mail não é a mesma coisa que ouvir as palavras de um amigo por telefone, mas quantas vezes lemos um e-mail e percebemos que estamos com um sorriso nos lábios? Podemos dizer então que o efeito das palavras são o mesmo, independente do meio de comunicação?

O convivío no mundo real é um tanto cruel, devemos admitir. Julga-se as pessoas por sua aparência e não se é uma pessoa boa, gentil e inteligente. A internet proporciona mostrar quem são as pessoas de verdade, e não o que elas aparentam ser. Ela faz com que se julgue a pessoa de forma correta, sem preconceitos de beleza, de cor, de aspectos fisícos no geral. É chocante afirmar, então deixo algo aqui para refletir: "O mundo virtual age de maneira mais correta e idealiza o que o mundo real deveria ser?"

Porém, todos tem que viver no mundo real também. O mundo virtual não é sinônimo de felicidade. Nós, seres humanos, necessitamos de calor, de afeto, que só o contato físico, o olho a olho, pode proporcionar.

Anônimo disse...

Eita, vc es´tá parecendo eu, depois de tanto argumento fica difícil dizer alguma coisa, hahahaha, Mas, vamos lá.
Concordo com tudo o que disse, inclusive com os exemplos... Acho que esse mundo virtual é muito mais atraente que o real, pois justamente podemos ser quem quisermos, sem nos preocupar com o que o outro vai achar.
A internet é tão cativante porque nos permite certa liberdade de expressão sem peso, sem culpa na cosnciência por dizermos isso ou aquilo. Isso é coisa do mundo real, chato, impositivo, conservador, dominador, que determina o que podemos dizer ou fazer. Depois que comecei por aquoi, fiquei impaciente com as cobranças das pessoas que me conhecem de verdade. São todas uma chatas. Sim, sou mais de uma pessoa. Aqui posso me libertar das amarras padronizadas de comportamento. Já no dia-a-dia, sou bem mais fechada, ensimesmada e infeliz.Tem um preço? Sim, as pessoas que me conhecem e leem o meu blog já tem uma outra opinião a meu respeito, até recebo comentário anônimo por causa de certos textos que escrevo no Afrodite. Viu só? Imposição de comportamento!
Digamos que temos dois mundos, vamos levando até onde der, mas liberdade, só temos no virtual.

E sobre o seu comment no meu blog, ah, me deixou pensativa, viu, rsrsrs. preciso achar uma resposta pra sua colocação.


Voltando hoje, com a corda toda. Aguarde-me!


Beijos e saudade, garoto!

Unknown disse...

Igor eu acho imprescindível que as pessoas saibam remediar certas situações de maneiras que muitas vezes não fariam se não precisassem.
ora é porque o seu chefe cabeça dura quer uma coisa que você sabe que vai dar errado, ora é porque uma pessoa vem pedir conselho e você sabe que não pode dizer a verdade nua e crua sem elaborar uma forma mais delicada de falar, e etc.
hoje em dia o mundo em si te requisita diversos de você. e se você não for flexível o suficiente poderá acabar dando murro em ponta de faca. Porém a pergunta é: Se nós conseguimos ser vários de nós ao mesmo tempo e eu digo que sim porque é extremamente necessário.
você apontou o exemplo do msn, eu digo que vai muito além disso, quando era criança muitas vezes acontecia de um amigo pedir para eu "xavecar" uma mulher para ele e enquanto eu dizia para ele ser homem e chegar na mulher logo eu dizia para a menina que o garoto era tímido.
então eu finalizo dizendo que conseguimos sim ser várias pessoas porque o mundo nos obriga a ser assim.

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